Mais de 100 mil participantes da 7ª Marcha das Margaridas ocuparam as ruas de Brasília-DF nesta quarta-feira (16/08). Milhares de mulheres, vindas de todos estados do país e até do exterior, marcharam na capital federal pela reconstrução do Brasil e pelo Bem Viver. Seções sindicais, plantonistas e dirigentes do SINASEFE participaram da mobilização.
“A Marcha das Margaridas é um encontro das lutas das mulheres do campo, das águas e das florestas: mulheres que produzem os alimentos que comemos, fazem parte da agricultura familiar e que lutam por seus direitos”, destaca a coordenadora geral do SINASEFE, Elenira Vilela. “As mulheres defendem o direito de se fazer ouvir na sociedade, pelo direito de produzir via agricultura familiar, de viver sem racismo, sem seximo e sem violência, é tudo que a gente quer! Viva Margarida Alves! Viva a Marcha das Margaridas! Viva cada ‘margarida’ brasileira!” finalizou Elenira. Assista:
Pela reconstrução do Brasil e pelo Bem Viver*
Então, por que as margaridas falam em “reconstruir o Brasil”? Se reconstruir é construir novamente, é refazer, então algo foi desconstruído. Sim! Bolsonaro assim que assumiu o governo em 2019, declarou que era preciso desconstruir muita coisa, ele prometeu e cumpriu: as políticas públicas e os direitos da população, de um modo geral, não foram apenas ameaçados como deliberadamente atacados nos últimos quatro anos.
As mulheres, notadamente, as mulheres negras, trabalhadoras, do campo, da floresta e das águas têm vivenciado os efeitos danosos da ausência dessas políticas no seu cotidiano. E isso significa que direitos lhes foram negados, assim como foram negadas existências e possibilidades de cuidado, proteção e segurança. Por isso essas mulheres se propuseram a marchar para RECONSTRUIR tudo o que foi destruído, e em condições nada fáceis: esse é o tamanho do desafio que está colocado também para a Marcha das Margaridas 2023.
A devastação veloz da natureza e da biodiversidade, associada ao reforço das transnacionais da mineração e do agronegócio e o sacrifício da soberania nacional e popular, com a subordinação do país aos interesses das corporações transacionais, reforçaram a necessidade de pensar que Brasil se quer reconstruir. Um Brasil do Bem Viver! Esse é o horizonte e o sentido da reconstrução do Brasil que as Margaridas querem.
Mas qual o significado do Bem Viver?
O Bem Viver nasceu da experiência de vida coletiva de alguns povos e nacionalidades indígenas, e expressa suas formas de organização social e do viver coletivo, e as práticas políticas. Ele nos ensina que é possível construir relações de solidariedade e coletividade por meio de valores e princípios comuns.
São distintas as definições de Bem Viver, assim como são distintas as maneiras de vivenciá-lo. Mas de um modo geral é possível dizer que o que há em comum entre essas várias vivências é que elas propõem a integralidade do mundo e uma vivência em harmonia com a natureza, envolvendo o cuidado e a proteção da Mãe Terra, geradora da vida.
O Bem Viver que as Margaridas anunciam se estabelece a partir de relações que respeitam as diferenças e admite maneiras distintas de viver; que cultiva o respeito e valorização de todas as formas de vida. E que aponta para uma economia construída a partir de práticas que levam a cultivar relações de reciprocidade, pautada na solidariedade, responsabilidade e integralidade. Quando as Margaridas apontam o Bem Viver como o sentido do Brasil que elas querem reconstruir, elas estão reafirmando a possibilidade de:
- estabelecer uma relação de não-exploração com a natureza; usufruir do direito de viver em suas terras e territórios; mudar os moldes de produção e consumo, e propor novas formas de produção de alimentos, de modo a fortalecer a soberania e segurança alimentar e nutricional; participar plenamente na política e nos espaços de decisões;
- limitar a concentração de riqueza, levando a uma convivência sem desigualdades, sem pobreza, sem fome, sem racismo e sem violência, em que as mulheres do campo, da floresta e das águas tenham autonomia sobre seus corpos-territórios; e, por fim,
- cultivar relações em que o cuidado e os afetos sejam resguardados por todas e todos.
Eixos políticos*
Esse ano os Eixos Políticos que mobilizaram as participantes foram os seguintes:
- Democracia participativa e soberania popular;
- Poder e participação política das mulheres;
- Autodeterminação dos povos, com soberania alimentar, hídrica e energética;
- Democratização do acesso à terra e garantia dos direitos territoriais e dos maretórios;
- Vida saudável com agroecologia e segurança alimentar e nutricional;
- Direito de acesso e uso da biodiversidade, defesa dos bens comuns e proteção da natureza com justiça ambiental e climática;
- Autonomia econômica, inclusão produtiva, trabalho e renda;
- Educação pública não sexista e antirracista e direito à educação do e no campo;
- Saúde, previdência e assistência social pública, universal e solidária;
- Universalização do acesso à internet e inclusão digital;
- Vida livre de todas as formas de violência, sem racismo e sem sexismo;
- Autonomia e liberdade das mulheres sobre o seu corpo e a sua sexualidade.
Concentração, caminhada e encerramento
As participantes da 7ª edição da Marcha das Margaridas começaram a chegar na capital federal desde o início da semana, realizando atividades políticas e culturais em diversos pontos da cidade antes da grande manifestação que ocupou a Esplanada dos Ministérios na quarta-feira (16/08).
A concentração da Marcha ocorreu no acampamento montado no Parque da Cidade, de onde as alas começaram a sair, a partir de 7h30, organizadas por eixos e regiões brasileiras. A manifestação percorreu mais de 4 Km pelas ruas da cidade, alcançando a região da Esplanada dos Ministérios por volta de 11h30.
A Marcha foi encerrada numa cerimônia no gramado central da Esplanada, com a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que anunciou a criação de um plano emergencial de reforma agrária e de um pacto nacional de prevenção ao feminicídio. Leia mais sobre todas estas medidas aqui.
A cerimônia também contou com a presença de várias ministras, parlamentares e integrantes da organização da marcha. A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, destacou que o governo federal quer ficar mais próximo da população. “Essa marcha está em Brasília, mas, a partir de agora, são o governo e o Ministério das Mulheres quem vão marchar até vocês, para que nós possamos, de fato, garantir resultados e efetividade das políticas públicas para as mulheres brasileiras”. “O presidente Luiz Inácio Lula da Lula da Silva já disse não quer ministro em Brasília. Ele quer ministros nos lugares onde tiver o problema. Por isso, nós, os ministros, estaremos com vocês, para que nós possamos resolver”, declarou a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves.
Margarida heroína
Foi publicada, nesta quinta-feira (17/08), a Lei nº 14.649/2023, que registra o nome de Margarida Alves no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, também chamado Livro de Aço, como a heroína das ligas camponesas e dos trabalhadores rurais do Brasil. A líder sindical assassinada na porta de casa, em 1983, por lutar pelos direitos dos campesinos, também dá nome a maior marcha de movimentos sociais de mulheres do país, a Marcha das Margaridas.
Galeria de fotos
O SINASEFE participou da 7ª Marcha das Margaridas com representantes de seções sindicais, da direção nacional e de seu plantão semanal. Antonildo Pereira (coordenador de pessoal docente), Elenira Vilela (coordenadora geral), Lucrécia Helena e Wildson Justiniano (plantonista de base SS Rio Pomba-MG), além de sindicalizados(as) da seção Sindsifpe, participaram da atividade.
*Informações divulgadas originalmente pela organização da 7ª Marcha das Margaridas. Texto elaborado com informações da Agência Brasil.