Membros do Conselho Superior (CONSUP) do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), junto com os conselheiros do Colégio de Dirigentes (CODIR), Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CONSEPEX) e com os membros do Comitê de Ensino (COEN), denunciam a situação do Instituto devido à nomeação do Reitor pro tempore Josué de Oliveira Moreira.
A carta conjunta encaminhada ao Ministério da Educação solicita providências para as questões apresentadas. O documento esclarece que “a retomada das atividades acadêmicas é o principal motivo desta comunicação”. Aponta ainda “a falta de articulação e de governança do Reitor pro tempore e de sua equipe temporária, além da falta de representatividade e de competência para gerenciar a retomada das atividades por qualquer modalidade que seja, situação que preocupa a todos que fazem parte da comunidade do IFRN”.
“Convém destacar o envio por parte do Conselho Superior de dois ofícios à Secretaria de Educação Tecnológica”, em maio e junho deste ano, denunciando várias situações ocorridas na instituição.
O professor Andreilson Oliveira, diretor geral do campus Currais Novos e membro do CONSUP, explica que na reunião do dia 31 de julho os conselheiros decidiram fazer um documento junto aos vários Conselhos da instituição para enviar à Secretaria de Educação Tecnológica do MEC e outro diretamente ao ministro da educação, mostrando a situação em que a instituição se encontra hoje em relação à Reitoria. “Não é a primeira vez que o Conselho Superior envia uma correspondência à Secretaria de Educação Tecnológica solicitando providências, mas não houve retorno, então decidimos fazer outro documento apurando com todos os conselheiros para ter um peso maior, principalmente agora na retomada das atividades”.
Ele denuncia que “até então a Reitoria pro tempore não fez absolutamente nada de organização para a retomada das aulas”. Relata ainda que na terça-feira (04/8) durante reunião do colégio de ensino, que é consultivo, “o Reitor queria que marcasse uma data para a retomada das aulas sem um planejamento definido, sem diretrizes pedagógicas para os campi, sem observar alunos em situação de vulnerabilidade social que não poderiam acompanhar de forma remota”.
Andreilson observa que os Conselhos formados democraticamente com representações de toda a comunidade do IFRN e a sociedade civil estão sendo desrespeitados. “A Reitoria não escuta o que os conselheiros dizem, encerra reuniões e ataca representantes dos Conselhos, como no caso do pró-reitor de ensino que chamou o pessoal do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão de baderneiros”.
Entre tantas denúncias, o professor lembra que os 20 computadores Macbook não foram comprados por causa da pressão que foi muito grande, mas que a compra chegou a ser autorizada pelo Reitor pro tempore. “Eram máquinas que seriam destinadas apenas para a equipe da Reitoria, cada uma no valor de 12 mil e setecentos reais, enquanto o equivalente a 30% dos alunos não têm condições de acesso à internet por questões de equipamentos”.
Destaca que uma das reivindicações da Carta enviada ao MEC é a destituição do Reitor pro tempore. “A equipe que está na Reitoria não tem a menor capacidade para fazer essa retomada das aulas acontecer. Vale salientar que os campi estão trabalhando a todo vapor, mas esbarramos na falta de diretrizes dos vários setores da Reitoria. Como vai funcionar avaliação, o calendário acadêmico, numa provável retomada por meio remoto? Não é só ditar uma data, precisa dessas orientações sistêmicas porque somos 22 campi que funcionam seguindo a mesma orientação didática, um padrão de qualidade que sempre foi o que o IFRN primou e sempre ofereceu à sociedade norte-rio-grandense”.
Carla Alves, membro do CONSUP pela associação dos ex-alunos, chama a atenção para as denúncias que revelam tudo o que está errado na gestão pro tempore do senhor Josué Moreira. “Na verdade, é uma gestão que já começou errada, por ser ilegítima, por ser uma intervenção”, um desrespeito à comunidade acadêmica do IFRN, que elegeu o professor José Arnóbio como legítimo Reitor.
“Essa carta é mais um pedido de socorro dos membros dos Conselhos e órgãos Colegiados do IFRN. A atual gestão não tem preparo para conduzir reuniões que de fato produzam soluções. É muito triste e causa indignação ver uma instituição centenária, que vem construindo uma história de sucesso ao longo dos anos devido à competência da maioria de seus servidores e dedicação de seus alunos, agora cair, assim, na mão de usurpadores, desconstruindo todo o processo de gestão democrática”.
A professora de Língua Portuguesa Marília Silveira, que está na instituição há 25 anos, desde a época da ETFERN, se diz angustiada com a atual situação do IFRN. “Desde abril, quando o Reitor pro tempore assumiu, o Conselho tem lutado e feito o que pode dentro do nosso regimento para que a instituição continue com a sua qualidade, mas está sendo muito difícil. Porque além do Reitor não ouvir os conselheiros, tem descumprido todos os regimentos, e esta carta é justamente para fazer as denúncias para que alguma providência seja tomada. Não dá para o instituto ficar na mão de pessoas sem experiência, sem conhecer como a instituição funciona, pedagogicamente e institucionalmente”.
Ela conta que existe uma pressão para a volta às aulas. “Mas essa retomada não pode acontecer de forma irresponsável, não planejada, não dá para dizer que vai voltar no dia 31 de agosto se não estamos preparados para isso, porque exige toda uma preparação de infraestrutura, inclusive pedagógica, de professores que não tem intimidade com as tecnologias”.
A professora Marília, que também é membro do CONSUP, demonstra sua preocupação com os alunos do interior que não são da cidade onde os campi fica e que não tem acesso à internet. “Temos que pensar nesses alunos, porque senão uma volta pelo ensino remoto vai aumentar ainda mais o fosso que separa os alunos que têm condições daqueles que não tem. O pró-reitor falou na reunião dos diretores acadêmicos que não pode sacrificar 80% por conta de 20%. Essa lógica matemática parece que ela funciona, mas estamos falando de gente, de alunos”.
Ela afirma que o IFRN precisa de uma liderança com capacidade, competência para fazer a gestão desse retorno. “Essa gestão pro tempore não tem essa capacidade. É isso que estamos pedindo ao MEC, que substitua esse Reitor. Somos acusados todo dia de ideologia, de militância, mas a minha militância é pelo IFRN. Tenho o maior orgulho dessa instituição”.
Estudante do IFRN desde 2018, Pablo Deyvid está no 3° ano do curso Técnico Integrado de Informática do campus Pau dos Ferros. “Elegemos o professor Arnóbio na última eleição para Reitor e foi meio que um baque a indicação do Reitor pro tempore. A gente percebe a irresponsabilidade dele com a instituição, um descaso com os alunos e professores que machuca muito tudo isso que está acontecendo. Eu tenho um irmão e quero que ele estude no IFRN porque tem um ensino de qualidade”, diz por telefone com um tom de espanto.
Ele relata que o atual pró-reitor de ensino, José Ribeiro de Souza Filho, durante a campanha para Reitor, disse que iria acabar com o curso de Informática, “porque tinha técnico de informática demais”. Isso marcou o estudante que se sentiu ameaçado de ter o seu curso extinto. “Pôxa, é o meu curso!”
Militante do movimento estudantil e membro do CONSUP, Pablo se queixa que Pau dos Ferros é um campus muito isolado e que a Reitoria demora a atuar na região. Ao falar do retorno às aulas se mostra preocupado. “Não existe uma solução simples como o Reitor está implementando de simplesmente querer voltar. É uma situação muito complicada por que tem que analisar. Presencialmente é impossível por conta da pandemia, e remotamente precisa de um plano de ação para as pessoas carentes”. Dá como exemplo muitos amigos que não tem internet em casa.
Ele informa que a última reunião que iria aprovar os auxílios destinados aos alunos em situação de vulnerabilidade social foi suspensa pelo Reitor Josué Moreira. “O IFRN muda vidas e não levar em consideração essas pessoas que estão em vulnerabilidade é desumano. É muito frustrante ver todo o nosso trabalho ser desmerecido por conta de uma única pessoa, que nem participou das eleições para Reitor nem foi eleita”.
Já no finalzinho da conversa Pablo afirma: “O IFRN, mais do que nunca, está precisando da gente. É muito lindo ver estudantes pesquisando, apresentando trabalho, ganhando prêmios, indo para longe. O IFRN já fez muito por nós, agora é nossa hora de fazer pelo Instituto Federal que está frágil por conta do Reitor pro tempore. Somos mais de trinta mil estudantes e a gente tem força para lutar. Não vai ser um interventor que vai derrubar o movimento estudantil”.
O SINASEFE Natal parabeniza a iniciativa dos Conselhos e Colegiados do IFRN, que têm exercido um excelente papel na representatividade e seguem firmes na resistência em defesa da democracia no Instituto.
Acesse AQUI a carta conjunta dos Conselhos e Colegiados do IFRN com a apresentação dos fatos.
Com informações do Coletivo Foque